quarta-feira, 4 de março de 2015

Marias V



Lá vem ela em passos lentos, cabisbaixa, esmorecida,
a Maria animada parece estar adormecida.
Ei Maria estás calada, tristeza assim eu nunca vi;
com a lata na cabeça,
lenta,
lágrimas
escorrem em ti...
O dinheiro lhe faltou?
Seu sapato descolou?
Maquiagem acabou?
Seu cabelo está caindo?
Alta estima reduzindo?
E a Maria ali calada a cabeça maneava...
Hoje sou poeira e pó,
a cabeça deu um nó,
tenho um milhão de problemas,
me  preocupo com a Iracema,
o meu neto está doente,
minha irmã está carente,
meu vizinho dependente,
e a Rita ficou rica
mas, não ajuda a Isabela que hoje mora
na favela...
A Rita se faz de indiferente,
e eu querendo ajudar toda essa gente...
Hoje sou poeira sou pó,
a cabeça deu um nó,
a lata ficou mais pesada,
me arrasto pela estrada,
ouço gemidos dessa gente
que caminha descontente,
me vejo de mãos atadas,
eu não posso fazer nada...
Maria se transforma  e no rosto de mulher
ilumina sua face se enchendo de muita fé,
Maria ajoelhou-se, fez ao céu uma oração,
vi ali um redemoinho, poeira levantar do chão,
eram anjos e arcanjos elevando a sua prece,
eu a vi sussurrando algo que dizia assim:
- Hoje sou poeira sou pó,
a cabeça deu um nó,
a missão estou cumprindo, com a lata vou seguindo,
mas te rogo criador, me arranque desse chão,
me unge com teu unguento, toca meu coração
e perdoa aos que não sabem por ti clamar,
mas te peço por clemência, ajuda a esta
nação que precisa do teu  cuidado e milagres
da tua mão...
E Maria se ergueu, sua lata ajeitou,
Enxugou as lágrimas, agora está mais forte,
sua fé a restaurou...
Vai Maria, vai cantando, ajudando toda essa gente.
Lata d’água na cabeça... Lá vai Maria!


Ely Monteiro
Imagem: Google

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