E eu debruçada na janela vi o bebê que nascia,
a criança que ao dar os primeiros passos caia,
a menina que tinha medo da noite
que brincava, cantava e amava doces;
eu da janela vi a menina virar adolescente,
a se olhar no espelho,
a chorar pelas transformações
do seu corpo;
Eu da janela vi a mocinha na escola fugindo das brigas,
colecionando papéis de carta, escrevendo versinhos de amor;
eu da janela vi a menina moça dormindo abraçada com o diário,
sonhando com flores, com contos de fada;
eu da janela vi a moça de singela beleza tornar-se mulher,
sentir dores e derramar lágrimas,
ficar inquieta, passar noites acordadas.
Eu da janela a vi sofrendo preconceitos e descriminações
quando quis ser ela por própria opção;
eu da janela vi a mulher como pássaro que canta triste na
gaiola.
Eu da janela vi a mulher que tirava uma chave do bolso,
a mulher que saia de um calabouço,
saindo da prisão interior
sorrindo acenando para mim.
Eu da janela vi a mulher indo por uma estrada de árvores
coloridas
onde seus pés não tocavam o chão, às vezes abaixava para
tocar as flores do caminho com as mãos;
jogando do alto sementes ao chão,
levando com ela folhas onde havia escrito mil palavras.
Eu da janela vi a mulher cantar um doce canto, debrucei na
janela, me esforcei para vê-la
Mas, já ia longe
e, quando pensei em fechar às cortinas a mulher sorriu e de
longe acenou para mim.
Ely Monteiro
Imagem: Julius Leblanc Stewart
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